Sobre Envelhecer

Tempo de leitura: 5 minutos

Uma nova escala de importâncias se estabeleceu para mim depois dos 60 anos, na questão do envelhecer. Eu me pergunto: o que  realmente importa na minha vida a partir de agora? que importância isso tem diante da vida? Isso vale um esforço? Vale um sofrimento? Vale o meu tempo?

Chegar aos 60 anos de idade foi transformador. Veio a consciência de que daqui em diante, a cada novo ano de vida, vou lidar com perdas – corpo e mente estão no processo gradual de envelhecimento. E, pior que isso, perdas de pessoas queridas, amores, familiares e amigos. Em algum momento, a perda da minha própria vida.

Por muito tempo, me vi  preocupada com o surgimento de rugas e com a pele cedendo em todo o corpo, preocupada com a mutação do envelhecimento e a minha aparência exterior. Não sei dizer o que, exatamente, se processou – foram os hormônios, foi uma nova visão de vida pós pandemia? Eu não sei dizer ao certo. Só sei que, diante de um tempo que encurta, fica muito presente a necessidade de colocar energia (e dinheiro!) onde vai somar em qualidade de vida, paz de espírito e autoaceitação.

Uma nova escala de importâncias. 

Daqui para frente, importante é poder me exercitar para ter um corpo firme, com músculos que me sustentem – se eu escorregar, tenho mais chances de não cair. E ter ossos fortes pra, se eu cair, não quebrar um osso. Daqui em diante, ter autonomia para ir e vir é uma graça alcançada, todos os dias.

Agora importa ter o cérebro com as capacidades preservadas o mais possível, é ter lucidez, boa memória e o passo firme. 

Importa aprender e acompanhar a evolução – poder compreender as mudanças do mundo, a tecnologia (a inteligência artificial está aí!),  internet, as redes sociais, apps e tudo mais que nos insere na atualidade. E tudo isso com a mente e o coração sadios, fortes e alegres.

Os procedimentos estéticos e o antienvelhecimento.

Não sou contra os procedimentos estéticos. Lá nos meus 45 anos, fiz o primeiro botox. Morria de medo, mas queria muito. Minha médica percebeu isso e praticamente me levou pela mão para fazer a aplicação da toxina. E eu fui.… e eu adorei. A partir dali, tomei coragem – fiz preenchimento labial e o botox entrou na minha rotina de cuidados, duas vezes ao ano. 

Aos 55 anos, fiz um mini lifting no rosto. Um procedimento radical, eu sei. Mas a minha imagem no espelho era a de uma mulher 20 anos mais velha… (conto os detalhes dessa experiência em outro post).

Experimentei todos os tipos de procedimentos antirrugas. Fiz radiofrequência, peeling elétrico e microagulhamento. Todos os esforços para ativar um colágeno que, dia após dia, se afastava mais de mim. Três anos após a cirurgia, voltei ao botox, peeling, sessões de luz pulsada e aplicações de um bioestimulador de colágeno

Apesar de todos esses investimentos contra as rugas, elas voltam e não há o que possa barrar esse processo, (pelo menos até agora).

A roda gigante da beleza antirrugas. 

Envelhecer é um processo contínuo, não vai parar nunca enquanto se viver! Aceitar o envelhecimento não é se atirar na lama, nem ser descuidada. É saber que essa luta é interminável – e muito cara. E que a natureza é uma força maior que nós e muito poderosa.

Entendo que, dependendo da atividade ou do círculo onde a pessoa vive ou trabalha, quebrar esse ciclo de procedimentos e ajustes estéticos é muito difícil. O exemplo mais claro disso são as atrizes, hoje com 50 anos, com rostos de 30. Acho todas lindas e maravilhosas. Mas quantas delas estão presas nesse circuito e nem fazem isso por uma vontade pessoal? Por quanto tempo mais elas vão poder concorrer aos papéis de personagens mais jovens e interessantes antes de entrarem no rol das senhoras, das avós, das velhas e das bruxas? As oportunidades delas encolhem também. Faz todo o sentido pra mim. 

Outro efeito cruel da cultura do antienvelhecimento é que elas estão o tempo todo sendo exibidas para nós, “mulheres comuns”. Elas são lindas, quase não tem rugas! Imagens alcançadas à custa de muito foco e sobretudo – fator que mais nos separa delas – de um volumoso investimento financeiro.

Essa roda gigante da beleza antirrugas vai seguir girando, eu sei, e é “cada uma no seu quadrado”. Algumas podem escolher como envelhecer. Outras não tem escolha porque sobreviver é a questão chave (ter comida na mesa, pagar condomínio em dia, a faculdade dos filhos, talvez cuidar dos próprios pais). O importante é nos apoiarmos umas às outras – nas nossas escolhas e realidades individuais.

Vamos envelhecer em paz!

O processo de envelhecimento é cheio de dificuldades e transformações físicas, emocionais e financeiras. As questões da saúde e da beleza nessa fase da vida entram em ebulição. A consciência do tempo que encurta e as perdas podem trazer muita ansiedade. É importante focar no agora e investir na saúde do corpo e da mente para um futuro com autonomia física. A beleza vai brotar por si só quando houver aceitação e paz interior.

Os preconceitos com idade e com o envelhecimento estão sendo expostos nas redes sociais e isso é muito bom! Mas, como todo preconceito, vai demorar um tanto para que o etarismo deixe de existir, principalmente no meio das mulheres. Esse é um trabalho diário de desconstrução para cada uma de nós, mulheres que estão velhas (começando pelo não preconceito com essa palavra). 

Acredito que a troca de experiências sobre o envelhecimento ajuda a clarear ideias, oferece suporte para quem não se sente bem e para quem procura um reflexo de si em outras: – não estou sozinha, não acontece só comigo. Então, vamos todos envelhecer e deixar envelhecer em paz?

Isabel Cavalcanti Juchem

Isabel Cavalcanti Juchem

Sou publicitária, aposentada, 60+, e falo aqui sobre envelhecer mantendo o espírito jovem.

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