Dizer sim às rugas é um ato revolucionário quando o padrão é esconder e apagar. Para as mulheres, principalmente no Brasil, as rugas trazem total rejeição. Os procedimentos antirrugas se tornaram um padrão principalmente para a turma que ingressa nos 45 – 50 e começa a viver os efeitos da menopausa e do envelhecimento real.
Vendo fotos de celebridades 50+, a gente chega a pensar que está falhando muito em cuidar da própria aparência. É difícil encontrar imagens de mulheres que não fizeram nenhum procedimento estético no rosto e que levam suas rugas no rosto, naturalmente.
Eu e minhas rugas
Dos 45 até os 57 anos, fiz diversos procedimentos antirrugas e agora, aos 61 anos, decidi parar. Por duas razões:
- primeiro, porque entendi que a cultura antienvelhecimento é uma construção que nos empurra desde muito cedo para esse circuito sem fim dos procedimentos contra rugas, pela aparência eterna dos nossos 25 anos
- segundo, porque eu penso que os procedimentos antirrugas funcionam bem por algum tempo, mas existe uma linha limite que, uma vez cruzada, não tem volta. Essa linha é o ponto em que a fisionomia fica muito modificada.
Acontece que a pele vai cedendo mais e sobra mais – o que nos obriga a preencher mais ou esticar mais. Não tem jeito, o rosto muito preenchido ou muito esticado perde expressão e naturalidade, é fato! Mas, a escolha por fazer procedimentos estéticos e até quando fazê-los deve ser pessoal.
Cosméticos e maquiagem.
Envelhecemos, mas o autocuidado continua! Eu procuro uma linha de cosméticos e maquiagem feita especialmente para o rosto com rugas, que não ressalte as linhas e que não se deposite nelas. Na embalagem, poderia dizer bem claro: base para pele com rugas! Por que não?
Toda a comunicação da indústria de cosméticos nos aponta para combater, fugir, tratar, evitar, reduzir, eliminar, prevenir – como se fosse uma ruga fosse “uma doença grave”.
Ostentar as rugas no rosto é como andar na contramão da avenida. A gente cresce, vive e morre rodeada por discursos antirrugas. Está na hora de aceitar as rugas sem medo ou preconceitos – sim, tenho rugas! rugas, rugas!
As rugas nas redes sociais.
Eu penso que as redes sociais (em especial o Instagram) são ferramentas incríveis de comunicação e informação. Ali se encontram todos os tipos de perfis: de notícias, de coisas surpreendentes, os divertidos, os de arte, de dança, de música, restaurantes, receitas, viagens, personalidades interessantes, autoajuda, correntes do bem e essa lista não tem fim. E, como tudo na vida, também se encontra muito lixo, embora se tenha a opção de ignorá-las ou combatê-las.
Fato é que, quando criei um perfil dos meus 60 anos e postei minhas fotos sem usar aqueles filtros rejuvenescedores, instantaneamente surgiram na minha timeline ofertas de perfis de dermatologistas, de produtos antirrugas – até fronha antienvelhecimento que promete “mudar a pele durante a noite”, “não sofra mais com rugas!!!” dizia um post. E dos mais cruéis, onde a foto comparava duas atrizes com 60 anos, uma naturalmente com rugas e outra sem, e perguntava: “como você quer envelhecer?”
O ataque constante ao envelhecimento nos faz acreditar que assumir as rugas é feio e inadequado e que não aparentar a idade que se tem é uma conquista suprema!
Chega de preconceito com as rugas!
Nós somos todos livres para fazer as nossas escolhas estéticas – com rugas ou não, mas chega de preconceito! A intenção não é condenar os procedimentos estéticos (que eu mesma fiz por um período), mas apoiar uma legião de mulheres que estão escolhendo por aceitar seu rostos com rugas. Isso vai na mesma direção de aceitar os cabelos grisalhos. Se era padrão pintar, agora já não é mais. Pinta o cabelo branco quem quer. E quem não quer, tudo bem!
Espero que todas nós encontremos apoio ao invés de “olhares tortos”, crítica e exclusão. Afinal, normalizar o que é normal não é nem um pouco absurdo, concorda?
Então, me conta, como você lida com suas rugas? Escreve pra mim: isabel_ju@hotmail.com