Quando menina, aos 8 ou 10 anos, minhas irmãs e eu brincávamos de calcular nossa idade no ano 2000: a conta fechava nos 40 anos ou perto disso! Nos espantava, mas ainda era algo muito, muito distante.
Naquela época, 40 anos era mais ou menos a idade dos nossos pais, o que significava “ser velho”. Mal sabia eu que aos 40 anos a gente segue voando as tranças por aí a plena força.
Para uma criança, a passagem do tempo se resume à espera ansiosa pela Páscoa, Natal, pelas férias escolares e festinhas de aniversário. Quando se é criança, um dia tem “72 horas” e um ano é eternidade. – Mãe, falta muito para o Natal? É um tempo maravilhoso, o corpo se expandindo e desabrochando numa mágica silenciosa. A gente só faz crescer. Tudo é novo e tudo é possível.
O tempo não para.
Da infância até adolescência vão uns 20 anos. A adolescência vem e passa como uma turbulência mudando tudo de lugar – de novo e de novo. Esse alvoroço nos empurra até a fase adulta quando estamos maduros (esperamos que sim) para assumir o timão do barco e decidir os rumos da nossa própria vida. É hora de começar a tomar conta do próprio nariz. Duvido muito que alguém se preocupe com o envelhecimento no decorrer desse período. Nem deveria mesmo.
A roda gira e aos 40 anos, da vida adulta até a meia idade, estaremos envolvidos com responsabilidades, decisões importantes por vezes muito difíceis e claro – coisas boas e prazerosas também vão rechear esse tempo.
Na meia idade, entre os 45 e 59 anos, de todas as coisas que se pode viver é também quando nós mulheres passamos pelo climatério até a menopausa. Essa é a fronteira de um novo capítulo: depois da menopausa a gente percebe que o corpo está de fato mudando, o envelhecimento é sutil mas começa a ficar aparente. Nossa fábrica de hormônios entra em marcha lenta e essa baixa na produção tumultua nosso “sistema operacional”. O resultado são uns bugs aqui e ali, um trava-destrava e superaquecimento. Jesus, me abana!
E vem a menopausa
A menopausa, para mim, se resumia a uns calorões e deixar de menstruar para sempre. Mas a verdade é que ela vai muito além disso (ondas de calor, o humor oscila, dificuldade para dormir, secura vaginal e mais). Ainda bem que esses efeitos começaram a ser expostos e amplamente discutidos clareando o assunto, dando chance para mulheres mais novas se prepararem e também, como no meu caso, recuperar alguma parte do que foi perdido.
Chegamos na 3a fase – dos 60 anos e além. Agora somos identificados como velhos, o que não ajuda em nada. A palavra velho carrega muita rejeição no seu significado: antiquado, gasto, ultrapassado, batido, puído, mas também se refere a “algo ou alguém que existe há muito tempo”. Fico com essa definição!
Relevâncias e vontade
Com o tempo, nossos corpos começam a apresentar dores e uma ou outra “peça” pode até dar defeito. Mas, estamos vivas e se for possível contornar esses problemas, ainda podemos muito e temos muita vida pela frente.
Depois dos 60 anos, algumas já passaram pela aposentadoria – que nos fez reorganizar prioridades e os dias ganharam um novo significado. O que era importante lá atrás, nos 30, 40 anos, agora perde a relevância e pula para o final da lista. O tempo é curto e não cabe desperdiçar com o que não nos faz bem. A saúde tem total preferência nessa lista, como nunca teve antes.
Vejo a vontade como combustível para conquistar o que sonhamos – em qualquer tempo – e quando envelhecemos, a vontade de viver nos leva ainda mais adiante. Vontade é potência, impulso, propósito e inspiração. Pergunte – do que eu tenho vontade? Aprender uma coisa nova? Viajar? Ensinar o que você eu sei fazer bem?
- vontade: “força interior que impulsiona o indivíduo a realizar algo, a atingir seus fins ou desejos; ânimo, determinação, firmeza.” (Fonte: dicionário Oxford)
Envelhecer é uma adolescência invertida.
Vejo o envelhecer como uma “adolescência invertida”. Aquele rebuliço da juventude, 40 anos depois, se repetindo diferente, mas com a mesma energia. A gente ainda pode tudo e, se não tudo, ainda pode muito. E poder muito é tudo quando se passa dos 60 anos mirando nos 90. Esse trajeto pode não ser fácil para todas e uma boa saúde ajuda bastante. E segurança financeira também, não vamos esquecer disso.
Envelhecer é o tempo que encurta e é mais vontade de viver. Vontade de correr o mundo, conhecer gente e lugares, estar com gente de todas as idades, com quem a gente ama, com quem nos soma, nos eleva, nos diverte e nos faz feliz.
Estamos envelhecendo um tantinho mais, a cada ano, e só com uma boa dose de disposição e vontade é que vamos chegar mais longe e felizes. Concorda?