Morrer é o único “nunca mais” de verdade.
Nunca mais vou estar em nada, com ninguém, lugar algum.
Serei apenas uma personagem estampada em fotos e vídeos
Armários esvaziados, pertences doados
Serei recordações do passado sem futuro.
Não estar mais aqui enquanto meus amores permanecem.
Não estarei mais aqui, mas meus amores sim.
Meu Jura, a Mel, minha família, amigos…
Como será a vida sem mim?
O apartamento sem mim
A praia sem mim
O Natal sem mim
A mesa do jantar sem mim, minha cadeira vazia
A viagem, os dias. Não estou mais. Nunca mais.
Morrer é nunca mais um futuro.
Morrer é nunca mais o futuro.
A ideia da morte me persegue de uns tempos prá cá.
Ela me espia por detrás da porta, salta do armário, brota no colchão.
Um pensamento indesejado que vai e volta. Pensamento iôiô.
Não quero me ocupar dele, mas, vez por outra, ele finca sua bandeirinha na minha cabeça. Que saco!
Tenho pena de não estar mais aqui e deixar tudo isso para trás.
Tenho pena de não estar mais aqui. De ser uma ausência perpétua nos dias que seguirão sem mim, sem negociação.
Encontros da família, as caminhadas de mãos dadas com o Jura, me deitar com a Mel no peito, olhar pela janela, ver o jacarandá no parque tapado de flores. Me sentar à beira-mar, só escutar vento e ondas. Molhar a terra dos meus vasos, servir um prato no jantar. Risadas. Música!
Morrer é um fato. Ponto.
Morrer é um fato sem negociação. Todos vamos. Um dia. Tenho dificuldade com isso.
Aos 63 anos, já aceitei que o tempo não para, mas eu tampouco. Quero sugar essa vida que eu ainda tenho, os anos que virão, com certeza. Ainda tenho tempo e ainda dá tempo para muito!
Hoje, me sinto árvore antiga no meio da mata. Já tomei um tanto de sol, ventos e chuva. Troquei as folhas mil vezes, perdi galhos de todos os tamanhos.
Sou uma das figueiras que vejo na beira da estrada, quando viajo para Santa Catarina (entre Maquiné e Terra de Areia, eu acho). Sempre que passo naquele trecho, contemplo aquelas árvores enormes espalhadas por ali, perto da Lagoa. Vejo imponência, vejo paz e intensidade. Me identifico com elas, ornadas pelas “barbas-de-pau”, e quase escuto suas vozes dizendo baixinho para o vento: “Queremos ficar!”
Eu também.